sábado, 19 de julho de 2008

O país no psiquiatra,já!





Não há ninguém que não sinta em si mesmo e não note nos seus concidadãos que estamos todos a precisar de uma consulta urgente de psiquiatria. Bastou alguém dizer que atravessávamos uma profunda crise e que estávamos de tanga para passarmos a ver tudo negro à nossa volta e a perder a fé nas nossas qualidades. Até aqueles projectos que ainda há bem poucos meses nos levantaram a moral e que foram por nós festejados com júbilo merecido - a Expo 98, a Porto 2001, o apuramento para o Mundial de Futebol, as auto-estradas sem portagens, a reabilitação urbana das cidades do projecto Polis, o Euro 2004 - são agora encarados como autênticos pesadelos ou pesadas heranças que a contra-gosto temos que concretizar ou recordar.Bons tempos aqueles, afinal, em que, sem querermos saber do estado das finanças, nos deleitávamos com os progressos apregoados da nação! Ele eram festas por tudo e por nada com muito fogo de artificio; ele eram as casas, os carros, as roupas de marca que todos comprávamos a crédito sem receio de não os podermos pagar; ele eram os telemóveis que dávamos aos nossos filhos adolescentes, mais as férias nas Caraíbas de prémio por terem passado; ele era a geração de ouro da selecção nacional de futebol que vencia e nos fazia vibrar de patriotismo; ele eram, por fim, as lágrimas e os berros de indignação e os abraços de regozijo que trocávamos nas ruas pela libertação de Timor envoltos nos panos brancos das nossas almas lavadas pelo sentimento do dever cumprido por um povo irmão; eles eram tantos, enfim, os motivos que pensávamos que tínhamos para sermos felizes!...Agora dizem-nos que tudo foram quimeras que nos venderam, que o dinheiro não pode chegar para a casa, o carro, os telemóveis, as férias; que a selecção nacional é uma geração de malandros, que o Euro 2004 vai ser um cabo de trabalhos e de despesas e que temos que viver com mais impostos, com menos empregos, com a gasolina mais alta, com ministros vestidos de cinzento, com Presidentes de Câmara que falam "economês", com menos passeios e almoços ao Domingo, com a selecção nacional, afinal, a dar murros, como nós, nos ventos da desdita e da vergonha...Um povo não pode viver no desespero e na descrença. Se vivíamos acima das nossas possibilidades, se precisamos agora de fazer sacrifícios que eles venham envoltos de esperança. Não se pode caminhar em frente sem auto-estima e com projectos fechados no presente. Ou recuperamos a alegria e a esperança de podermos de novo rir ( e consumir...) ou vamos todos, governantes e governados, parar ao divã do psiquiatra mais próximo. Mas atenção : a terapia, às vezes, tem que ser de choque!...

sexta-feira, 4 de julho de 2008

A Família hoje

Aumento da violência nas escolas reflecte crise de autoridade familiar Especialistas em educação reunidos na cidade espanhola de Valência defenderam hoje que o aumento da violência escolar deve-se, em parte, a uma crise de autoridade familiar, pelo facto de os pais renunciarem a impor disciplina aos filhos, remetendo essa responsabilidade para os professores.Os participantes no encontro "Família e Escola: um espaço de convivência", dedicado a analisar a importância da família como agente educativo, consideram que é necessário evitar que todo o peso da autoridade sobre os menores recaia nas escolas."As crianças não encontram em casa a figura de autoridade", que é um elemento fundamental para o seu crescimento, disse o filósofo Fernando Savater."As famílias não são o que eram antes e hoje o único meio com que muitas crianças contactam é a televisão, que está sempre em casa", sublinhou. Para Savater, os pais continuam "a não querer assumir qualquer autoridade", preferindo que o pouco tempo que passam com os filhos "seja alegre" e sem conflitos e empurrando o papel de disciplinador quase exclusivamente para os professores.No entanto, e quando os professores tentam exercer esse papel disciplinador, "são os próprios pais e mães que não exerceram essa autoridade sobre os filhos que tentam exercê-la sobre os professores, confrontando-os", acusa."O abandono da sua responsabilidade retira aos pais a possibilidade de protestar e exigir depois. Quem não começa por tentar defender a harmonia no seu ambiente, não tem razão para depois se ir queixar", sublinha.Há professores que são "vítimas nas mãos dos alunos".Savater acusa igualmente as famílias de pensarem que "ao pagar uma escola" deixa de ser necessário impor responsabilidade, alertando para a situação de muitos professores que estão "psicologicamente esgotados" e que se transformam "em autênticas vítimas nas mãos dos alunos".A liberdade, afirma, "exige uma componente de disciplina" que obriga a que os docentes não estejam desamparados e sem apoio, nomeadamente das famílias e da sociedade."A boa educação é cara, mas a má educação é muito mais cara", afirma,recomendando aos pais que transmitam aos seus filhos a importância da escola e a importância que é receber uma educação, "uma oportunidade e um privilégio"."Em algum momento das suas vidas, as crianças vão confrontar-se com a disciplina", frisa Fernando Savater. Em conversa com jornalistas, o filósofo explicou que é essencial perceber que as crianças não são hoje mais violentas ou mais indisciplinadas do que antes; o problema é que "têm menos respeito pela autoridade dos mais velhos". "Deixaram de ver os adultos como fontes de experiência e de ensinamento para os passarem a ver como uma fonte de incómodo. Isso leva-os à rebeldia", afirmou.Daí que, mais do que reformas dos códigos legislativos ou das normas em vigor, é essencial envolver toda a sociedade, admitindo Savater que "mais vale dar uma palmada, no momento certo" do que permitir as situações que depois se criam.Como alternativa à palmada, o filósofo recomenda a supressão de privilégios e o alargamento dos deveres.--